Autor: Thiago Cruz - 24/12/2024 03:09:43
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A prática do
dízimo remonta aos tempos antigos e está enraizada em diversas culturas e
religiões, sobretudo nas tradições judaica e cristã. Este artigo explora a
origem histórica do dízimo, sua prática no Antigo Testamento e sua continuidade
ou adaptação no contexto do Novo Testamento e da igreja cristã primitiva. No
entanto, no cristianismo primitivo e ao longo da história, a prática do dízimo
enfrentou variadas interpretações, especialmente quanto à sua obrigatoriedade
para os cristãos. Neste artigo, buscamos investigar as diferentes visões sobre
o dízimo e a relação entre essa prática e os ensinamentos de Cristo e dos
apóstolos, além de explorar a perspectiva de teólogos e líderes cristãos de
várias épocas sobre o significado e a aplicabilidade do dízimo nos dias de
hoje.
1. A Origem histórica do dízimo
O termo “dízimo”, em português, significa “Relativo à décima parte”[1], de origem no latim decimus[2], que significa, literalmente “um décimo”. No hebraico os termos são ma’aser (מַעֲשֵׂר)[3] e asar (עָשָׂר)[4] e no grego dekaté (δεκάτη)[5] são usados na Bíblia para descrever esta prática. O dízimo na Bíblia remonta o período patriarcal. Antes de Moisés receber as instruções de Deus, a primeira menção sobre dízimos na Bíblia encontra-se no livro de Gênesis 14.14-24, onde Abraão dá dízimo dos despojos da guerra. Outra menção do dízimo antes da Lei Mosaica foi quando Jacó, em Gênesis 28.10-22, promete dar o dízimo, como uma forma de voto, caso Deus o guardasse do mal.
Já na Lei, Moisés recebe de Deus, que os israelitas deveriam dar seus dízimos segundo algumas ocasiões especiais. Todo israelita, que tivesse condições, teriam que dar três dízimos[6]:
- O ma’aser Rishon, ou primeiro dízimo, também chamado de Primícias em Deuteronômio 26, que era a separação da décima parte dos produtos da terra de Israel. Para um judeu, este dízimo era tão importante que a Midrash[7] afirma que quem ingerisse alimentos, que não foram separados este dízimo, ele estaria comendo alimento impuro (não kosher[8]).
- O segundo dízimo é chamado de ma’aser sheni, que consiste na separação de um décimo de sua colheita que era destinada aos levitas (Números 18.21-32), pois como a tribo de Levi não foi lhe dada posse[9], então este dízimo era a garantia do sustento da tribo sacerdotal israelita.
- Havia também um terceiro dízimo, chamado de ma’aser ani, ou o dízimo para os pobres, era um dízimo que era tirado nos terceiros e sexto anos, do ciclo de sete anos, para alimentar o levita, o estrangeiro, a viúva, o órfão e outras classes de desamparados (Deuteronômio 14.28-29), quando um destes vinha reivindicar no campo de um israelita. Este dízimo remonta necessidade de acolhimento e hospitalidade, pois é uma forma do israelita lembrar de seus sofrimentos no Egito (Dt 10.18,19; Êx 22.21; Lv 19.34 e outros).
Contudo a prática de dízimos não foi somente praticada pelos israelitas na história. Quando Abraão, Isaque[10] [11] e Jacó dão seus dízimos, indica que havia uma tradição desta prática. Esta prática não era uma exclusiva dos hebreus, se considerarmos que Abraão viveu, praticamente, metade de sua vida junto aos caldeus, povo pagão da mesopotâmia, portanto, podemos imaginar que esta prática pode aprendida ainda lá. Quando o sacerdote Melquisedeque veio ao encontro de Abraão, a Bíblia não narra que ele perdeu tempo ensinando ao patriarca o que deveria ser feito com os despojos. As escrituras somente narram que Abraão entregou seu dízimo como se fosse algo costumeiro. Segundo o teólogo Mark Snoeberger:
O pagamento de dízimos não era uma prática nova, tendo sido realizado por séculos tanto por figuras bíblicas quanto por pagãos. É bem documentado que o dízimo estava presente nas mais antigas culturas – Romana, Grega, Cartaginesa, Cretense, Siciliana, Fenícia, Chinesa, Babilônica, Acádia e Egípcia – remontando aos primeiros registros escritos da raça humana.[12]
Então vemos que, à sua maneira, estes povos têm também uma forma de contribuição “sociorreligiosa”, visto que os dízimos não serviam somente para sustento de um templo ou da casta religiosa, mas, muitas vezes, serve como uma espécie de imposto, taxação ou contribuição para o governo. Mark Snoeberger continua:
Esta prática extrabíblica de dizimar, naturalmente, deve ser considerada ao se buscar a origem do dízimo. O dízimo era uma prática concebida divinamente, original com Yahweh e única em sua expressão, ou dizimar era uma adaptação divina de um costume originalmente pagão, dotado de significado teológico por decreto divino? Além disso, o dízimo era um ato de adoração exclusivamente ou uma demonstração de subserviência política: uma forma primitiva de tributação? Ou era uma combinação de ambos?[13]
Portanto, será então que a Lei Mosaica está apenas reproduzindo um comportamento pagão? Obviamente, não! A Bíblia diz que Noé, ao terminar os longos dias de deriva e aportando em terra firme, Noé oferta a Deus animais limpos e que isto agradou a Deus. Quando vamos então mais para trás no tempo Caim e Abel ofereceram as suas primícias a Deus. A origem do dízimo, podemos concluir, portanto, não vem de Moisés, nem de Jacó, nem de Abraão, nem Noé, nem Caim, nem Abel ou Adão, mas de Deus[14]. Snoeberger diz:
As ofertas de Caim e Abel mostram que homens que professavam temer a Deus, desde os primeiros tempos, traziam ofertas a Yahweh (v. 3) a partir de sua abundância. No entanto, não havia nenhuma porcentagem especificada, nem qualquer propósito delineado além da adoração direta e gratidão a Deus. Portanto, há pouca ligação entre essas ofertas e a base do dízimo levítico subsequente, nem esclarecimentos sobre sua aplicabilidade contínua. Embora seja possível que Deus tenha estabelecido requisitos obrigatórios para ofertas no Antigo Testamento além da revelação escrita, certamente não podemos deduzir, a partir do relato de Caim e Abel, que o dízimo estava entre esses requisitos.[15]
A prática judaica dos dízimos foi registrada em livros bem posteriores à Lei de Moisés. O Livro de Tobias (1,5-8) registra que ele, apesar de ser de uma das dez tribos do norte, ele ia todos os anos a Jerusalém, exceto no ano do descanso da terra, entregar seus dízimos:
Enfim, quando todos iam adorar os bezerros de ouro que Jeroboão, rei de Israel, tinha feito, só ele fugia da companhia de todos, e ia a Jerusalém ao templo do Senhor, e aí adorava o Senhor Deus de Israel, oferecendo fielmente todas as suas primícias e os seus dízimos, de sorte que cada três anos distribuía aos prosélitos e aos estrangeiros toda a dízima (destinada a eles). Estas e outras coisas semelhantes segundo a Lei de Deus observava desde menino.[16]
Flávio Josefo, contemporâneo dos tempos de Jesus e dos apóstolos também registra o ato:
Caio César, imperador pela segunda vez. Ordenamos que os habitantes de Jerusalém paguem todos os anos um tributo, do qual a cidade de Jope estará isenta, mas que no sétimo ano, a que eles chamam ano do sábado, nada pagarão, porque nesses anos eles não semeiam nem cultivam a terra, nem recolhem os frutos das árvores; que pagarão de dois em dois anos, em Sidom, o tributo que consiste em um quarto das sementes e os dízimos a Hircano e seus filhos, como pagaram os seus predecessores[17].
Sendo assim, na época de Cristo, durante o império romano, a prática de dízimos dos judeus se mantinha, pelo menos enquanto o templo estava ainda em pé. Mas após a morte, ressureição de Cristo e expansão de sua Igreja, este procedimento foi adotado pelos novos cristãos? Discutiremos isto no próximo tópico sobre os aspectos históricos e práticos sobre este assunto.
2. O dízimo no Novo Testamento e nos primeiros cristãos
Jesus menciona somente três vezes a prática do dízimo. Ele fala sobre o assunto em Mateus 23:23, Lucas 11.42 e 18.10-14 ao repreender os fariseus, que se preocupavam com todos os pormenores da Lei Mosaica e em seu cumprimento. Na época de Cristo, havia duas escolas hermenêuticas de interpretação da Torá e o Talmud[18], uma de Bet Shammai, rigorista, e a outra de Bet Hillel[19], liberal. Os fariseus seguiam as duas escolas de interpretação. Segundo Daniel Conegero[20]:
Entre os fariseus também havia debates sobre determinados pontos de sua doutrina. Nesse sentido, surgiram duas principais correntes de pensamento: a escola de Shammai, conhecida por sua rigidez e conservadorismo, e a escola de Hillel, de inclinação mais liberal e disposta a adaptar a lei às necessidades contemporâneas. Inclusive, o ancião Hillel foi o avô do mestre Gamaliel, também conhecido na Bíblia por ter sido professor de Saulo de Tarso no farisaísmo.
Jesus estava lidando com um grupo muito complexo, porém muito organizado, tanto como grupo religioso, tanto como uma espécie de “casta” ou partido. Realmente eles eram influentes na sociedade e dentro da política, então as palavras de Cristo tinham que ser muito precisas ao lidar com este grupo. Quando ele lidou com os fariseus, ele lembrou do cuidado e da rigidez farisaica em separar o dízimo até das coisas pequenas, como a hortelã, a erva-doce e o cominho, coisas que não fariam a mínima diferença no meio de grandes colheitas de grãos como o trigo ou o milho, mas esquecendo das coisas mais importantes da Lei: “[...] o de serem justos com os outros, o de serem bondosos e o de serem honestos [...]”[21] (BÍBLIA, 2000, Mt 23:23). Aqueles fariseus, que Jesus repreendera, estavam tão preocupados em não sair daquela interpretação, mas esqueceram de olharem o mais importante da Lei. Quando Moisés recebe as ordens de Deus, no tocante aos dízimos, elas são instituídas para benefício daqueles que mais necessitavam: os sacerdotes e levitas, por não possuírem direito a posses, e os necessitados (viúvas, órfãos, mendigos, estrangeiros etc.), ou seja, os pobres e os desafortunados são receptores da grande parte dos dízimos. Mas quando os fariseus fazem a interpretação e o ensino dessas práticas, eles se esquecem totalmente do cerne da Lei, mas colocam como uma imposição geral, é como se fosse a Lei insuficiente. João Calvino, no seu comentário sobre os evangelistas, diz:
Cristo acusa os escribas de uma falha comum a todos os hipócritas: eles são extremamente diligentes e cuidadosos em pequenas questões, mas negligenciam os pontos principais da Lei. Essa enfermidade tem prevalecido em quase todas as épocas e entre todas as nações, de modo que, na maioria dos casos, os homens têm se esforçado para agradar a Deus observando com exatidão algumas questões triviais. Assim vemos que os papistas, enquanto transgridem os principais mandamentos de Deus, são extremamente zelosos na execução de cerimônias triviais. A mesma hipocrisia agora é reprovada por Deus nos escribas, que, enquanto eram muito diligentes e cuidadosos no pagamento de dízimos, pouco se importavam com os principais pontos da Lei. Para expor ainda mais ao ridículo sua ostentação ofensiva, Ele não diz simplesmente que eles pagavam dízimos, mas dízimos de hortelã, endro e (como Lucas menciona) de todo tipo de erva, para assim fazer uma demonstração de zelo extraordinário pela piedade ao menor custo possível[22].
Jesus veio lembrar aos fariseus que a prática principal não é acertar corretamente a contribuição, mas de estar em conexão com as obras de misericórdia. João Calvino continua:
Mas, como Cristo faz a principal justiça da Lei consistir em misericórdia, juízo e fé, devemos, primeiro, entender o que Ele quer dizer com essas palavras; e, em segundo lugar, compreender por que Ele deixou de fora os mandamentos da primeira tábua, que se relacionam estritamente com a adoração a Deus, como se a piedade fosse de menor valor do que os deveres de caridade[23].
Contudo Cristo nunca revogou nenhum ponto da Lei, mas por causa da Graça o aprofundou, o teólogo Randy Alcorn diz:
Estar sob a graça não significa viver por padrões mais baixos do que os da lei. Cristo abordou sistematicamente questões como homicídio, adultério e juramentos e deixou claro que seus padrões eram muito mais elevados do que os dos fariseus (Mateus 5:17-48). Ele nunca abaixou a barra; sempre a elevou. Mas Ele também nos capacita, por Sua graça, a alcançar mais alto do que a lei exigia[24].
Os primeiros cristãos não se restringiam a uma percentagem padrão, tudo era de todos, não como um governo socialista, mas como uma comunhão total: “[...] tinham tudo em comum, vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade[25]” (BÍBLIA, 2000, Mt 23:23).
Alcorn reforça esta ideia
Os discípulos deram tudo o que tinham porque “muita graça estava sobre todos eles” (Atos 4:33). Ficou evidente desde o início que estar sob a graça não significava que os cristãos do Novo Testamento dariam menos do que seus irmãos do Antigo Testamento. Pelo contrário, significava que dariam mais[26].
Mateus Ortega diz que “quando mencionou o dízimo, Jesus se dirigia a judeu que estavam sob a lei[27]”. Não há nenhuma ordenança direta dos apóstolos sobre os dízimos, o teólogo Henry Clarke
“Durante séculos, após o início da Era Cristã, os cristãos não pagaram dízimos como dízimos. Em alguns escritos episcopais dos séculos II e III, surgem sugestões, mas nada além disso, recomendando o pagamento de dízimos conforme a lei mosaica, certamente não com o objetivo de entregar aos ministros todos os recursos desses pagamentos, mas para complementar os fundos da Igreja destinados ao apoio aos pobres, à manutenção das igrejas e aos ministros.[28]”
Jeronimo tinha a ideia de que “‘dai a César o que é de César’ refere-se a moedas, tributos e dinheiro; ‘e a Deus o que é de Deus’: aqui devemos pensar em dízimos, primícias, ofertas e sacrifícios”[29].
O pastor Rev. Augustus Nicodemus Lopes, teoriza que este silêncio dos apóstolos sobre o assunto seria por causa que como a igreja era composta, majoritariamente, por judeus, era um assunto que não precisava ser recomendado por escritos, já que era uma prática natural a eles[30]. Já Craig Blomberg argumenta que a falta de recomendação seria para denotar que “Nenhuma porcentagem fixa poderia definir adequadamente o que é demais ou de menos para todas as pessoas em todas as situações da vida[31]”.
3. O dízimo ainda é para os dias de hoje?
Há três tipos de argumentos que permeiam este debate:
- Não existe mais o dízimo, pois é uma prática que não foi sancionada por Jesus e nem foi praticada pelos primeiros cristãos;
- O dízimo existe e é obrigatório. Todo aquele que se diz cristão deve dar seu dízimo, pois Jesus sancionou e, apesar de não haver menções claras, tudo indica que os primeiros cristãos faziam;
- O dízimo não é obrigatório, mas dá-lo é um ato de amor pela obra. Apesar de Jesus não ter sancionado, ele também não o revogou.
Diversos teólogos comentaram sobre a questão do dízimo (apêndice A), o teólogo George Salstrand estudando a forma que os puritanos e apoiavam seus ministros na Nova Inglaterra, percebeu que nenhum deles tinham um sistema de dízimos, mas de contribuições voluntárias e, depois, houve leis para manter este apoio ministerial[32]. Martinho Lutero se posiciona contra os dízimos dizendo que
[...] é natural honrar a Deus, não roubar, não cometer adultério, não dar falso testemunho, não assassinar; e o que Moisés ordena não é nada novo. Pois o que Deus deu aos judeus do céu, Ele também escreveu nos corações de todos os homens. Assim, guardo os mandamentos que Moisés deu, não porque Moisés deu o mandamento, mas porque eles foram implantados em mim pela natureza, e Moisés concorda exatamente com a natureza etc. Mas os outros mandamentos de Moisés, que não são [implantados em todos os homens] pela natureza, os gentios não observam. Nem esses mandamentos se aplicam aos gentios, como o dízimo e outros igualmente bons, que eu gostaria que também tivéssemos. Agora, esta é a primeira coisa que devo observar em Moisés, ou seja, os mandamentos aos quais não estou obrigado, exceto na medida em que estão [implantados em todos] pela natureza [e escritos no coração de todos][33].
Já Alcorn conclui o oposto
Alguns argumentam contra o dízimo dizendo: “O Novo Testamento defende ofertas voluntárias.” [...] o Antigo Testamento também. A doação voluntária não é um conceito novo. Ter um padrão mínimo de doação nunca foi incompatível com dar além desse padrão. Se doações obrigatórias e voluntárias coexistiam no antigo pacto, por que não no novo? Não se trata de escolher entre dízimo ou oferta voluntária. Ambos sempre foram totalmente compatíveis.
O pastor presbiteriano Rev. E. B. Stewart dizia “Um sétimo do tempo e um décimo do dinheiro pertencem ao Senhor”[34]. Este era um pensamento recorrente no final do século XIX e início do século XX entre os cristãos americanos.
Spurgeon era optante de não fixar uma percentagem, em sua vida pessoal ele dava 20% de sua renda à igreja[35], segundo ele
É também digno de nota que, em relação à liberalidade cristã, não há regras estabelecidas na Palavra de Deus. Lembro-me de ouvir alguém dizer: “Gostaria de saber exatamente quanto devo dar.” Sim, querido amigo, sem dúvida você gostaria. Mas você não está sob um sistema semelhante pelo qual os judeus eram obrigados a pagar dízimos aos sacerdotes[36].
Pastores mais modernos colocaram o dízimo no sentido de dívida com Deus, Billy Graham dizia que quem não desse o dízimo estaria roubando o que pertencia a Deus por direito[37].
Este tipo de discurso tem sido repetido exaustivamente nos púlpitos modernos, principalmente de igrejas neopentecostais e de igrejas adeptas da teologia da prosperidade. Para o presidente da Igreja Universal, Bispo Edir Macedo, em seu site:
O dízimo representa o dizimista. Separado para Deus, pertencente ao Senhor, totalmente entregue no Altar, em símbolo de fidelidade e respeito. A oferta representa o ofertante, que entregou sua vida sem reservas, por amor e pela fé no Senhor Jesus. O ofertante que se entrega porque crê na Palavra que ouviu.[38]
Já para o pastor R. R. Soares, presidente da Igreja Internacional da Graça “Quem não o fizer, será amaldiçoado”[39].
A Igreja Presbiteriana do Brasil adota esta prática como requerida a todo crente:
A prática piedosa dos membros da igreja na entrega do dízimo é algo bíblico, requerido de todo crente, e que revela o correto entendimento sobre Deus e a sua Providência, sobre o homem e sua dependência, e é um ato de adoração cristocêntrica, portanto, deve fazer parte da rotina do povo de Deus[40]
Conclusão
[1]DÍZIMO, In: PRIBERAM, Dicionário da Língua Portuguesa, 2008 - 2024,
[2]Arquidiocese de Amparo. O Dízimo e o Quinto Mandamento Da Igreja. Disponível em:
[3]LEME, Gabriel Mansano, O dízimo e a Bíblia Portal Editora Ultimato, Disponível em:
[4]BARRETO, Inaldo Francisco, עשׂר "assar", Disponível em:
[5] ORTEGA, Matheus. Dízimo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2024. E-book Kindle.
[6]CHABAD.ORG. Maasser e o Ano de Shemitá. Disponível em:
[7] Segundo o livro “O mais completo guia sobre Judaísmo” do Rabino Benjamin Blech, na página 116, Midrash é uma forma de interpretação rabínica que explora as nuances e significados mais profundos dos textos bíblicos, expandindo e elucidando as histórias e ensinamentos da Torá através de parábolas, narrativas e comentários que vão além do sentido literal das Escrituras.
[8] Refere-se aos alimentos que estão em conformidade com as leis dietéticas judaicas, chamadas de kashrut. Esses regulamentos determinam quais alimentos são permitidos e como eles devem ser preparados e consumidos. Por exemplo, certas carnes são permitidas apenas se forem abatidas de maneira específica, e não é permitido misturar carne com produtos lácteos. O termo também pode ser aplicado a objetos e práticas que seguem as normas religiosas judaicas.
[9] Segundo o pastor Victor Fontana, na ocasião do sonho da fartura e fome do Egito, interpretado por José (Gn 41), além de Faraó, a casta sacerdotal egípcia tinha direito às terras dos habitantes, que as trocavam por alimento, no contexto da fome. Então, segundo Fontana, Deus “inverte” a situação, fazendo a casta sacerdotal israelita não ter herança de terras e estarem na dependência do Senhor e dos dízimos do povo. Ver mais em:
[10] Apesar de não ser mencionado na Bíblia, segundo a Mishnah, no livro Leis dos Reis e Guerras, no capítulo 9, menciona que Isaque separa seu dízimo e adiciona uma oração no período da tarde aos chamados mandamentos universais, recebidos por Adão. Ver mais em:
[11] A Mishnah uma espécie de Torá que era transmitida oralmente, compilada e escrita por volta do ano 200 pelo Rabino Yehudah HaNasi em um momento em que havia preocupação de que a tradição oral judaica pudesse ser perdida devido à dispersão dos judeus e às perseguições. Ver mais em:
[12] SNOEBERGER, Mark A. The pre-mosaic tithe: issues and implications. Detroit Baptist Seminary Journal, Detroit: Detroit Baptist Seminary, v. 5, p. 71-95, Fall 2000. Disponível em:
[13] Ibid.
[14] KAUFFMAN, Milo. The Challenge of Christian Stewardship. Scottsdale: Herald Press, 1955. p. 60, 65, 67. Citado em: CROTEAU, David A. A Biblical and Theological Analysis of Tithing: Toward a Theology of Giving in the New Covenant Era. Dissertação (Doutorado) – Liberty University, dezembro de 2005. p. 39.
[15] SNOEBERGER, Mark A. The pre-mosaic tithe: issues and implications. Detroit Baptist Seminary Journal, Detroit: Detroit Baptist Seminary, v. 5, p. 71-95, Fall 2000. Disponível em:
[16] SOARES, M. Bíblia Sagrada. Traduzido da Vulgata e comentado pelo Pe. Matos Soares. Vol. 2. Porto: Tipografia Porto Médico, 1946. p. 482.
[17] JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. De Abraão à Queda de Jerusalém, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2004. P. 651
[18] A palavra “Talmud” (תַּלְמוּד) deriva-se da palavra hebraica Lamad (למד) que significa “ensinar, instruir” ou também “aprender”. O Talmud é o manancial bibliográfico do judaísmo rabínico criado durante a era helenística da história judaica. Não um único livro – como geralmente se crê – mas uma coleção de livros. É uma autêntica biblioteca de tratados de leis e regulamentos rabínicos, tradições, costumes, ritos e cerimônias, assim como leis civis e criminais. Além disso, o Talmud contém opiniões, discussões e debates, aforismos moralísticos e exemplos biográficos de sábios rabínicos. Estes são apresentados aos devotos a fim de inspirar a emulação na sabedoria e na conduta ética. O Talmud tenta ainda orientar as massas judaicas através dos abrolhos perigosos da fé e da vida, por meio de ensinamentos populares que trazem à baila todas as artes e os artifícios pedagógicos de um folclore altamente desenvolvido. Depois da Torá, o Talmud é o mais importante “livro” da cultura judaica. A definição formal do Talmud não impressiona muito: é o sumário da lei oral que evolveu após séculos de esforço erudito de sábios que viveram em Jerusalém e na Babilônia até o início da idade média. Ele é uma criação não somente de uma época, mas de séculos de empenho coletivo. Seu conteúdo originou-se da revivescência e do autoexame moral que acompanhou a revolta dos Macabeus na vida judaica (século II a.E.C.), e que terminou com a conclusão do Talmud da Babilônia no ano 500 E.C. Ver mais em:
[19] Quem foram Hillel e Shammai? Hillel e Shammai foram dois de nossos maiores Sábios, cujas discussões sobre a Lei Judaica resultaram na criação de duas escolas de pensamento: a escola de Hillel – que era, geralmente, mais leniente – e a escola de Shammai – que era mais rígida quanto às Leis da Torá. Ensina o Talmud que os ensinamentos de ambas as escolas refletem a Vontade Divina, mas que nós devemos seguir as diretrizes da escola de Hillel. Porém, na era messiânica, ensinam os nossos Sábios, a Torá será seguida conforme os ensinamentos da escola de Shammai. Ver mais em:
[20] CONEGERO, Daniel. Qual Era a Doutrina dos Fariseus? Disponível em:
[21] BÍBLIA. A Bíblia Sagrada: Nova Tradução na Linguagem de Hoje. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.
[22] CALVINUS, Johannes. Commentary on a Harmony of The Evangelists Matthew, Mark and Luke. Edimburgo: The Calvin Translation Society, 1846. p. 89-90.
[23] Ibid.
[24] ALCORN, Randy. Does the Old Testament model of tithing still apply to Christians today, since it was part of the old covenant?. EPM – Eternal Perspective Ministries. Disponível em:
[25] BÍBLIA. A Bíblia Sagrada: Almeida Revista e Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. p. 2769. Versão para Kindle
[26] ALCORN, Randy. Does the Old Testament model of tithing still apply to Christians today, since it was part of the old covenant?. EPM – Eternal Perspective Ministries. Disponível em:
[27] ORTEGA, Matheus. Dízimo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2024. p. 60, E-book Kindle.
[28] CLARKE, Henry W., The History of Tithes from Abraham to Queen Victoria. Londres: George Redway, 1887. p. 13
[29] JEROME. The Fathers of the Church. Commentary of Matthew. Washington D.C.: The Catholic University Of America Press, 2008. p. 252-253
[30] LOPES, Augustus Nicodemus, O Dízimo no Novo Testamento - Augustus Nicodemus, YouTube, 16 de ago. de 2023, 53min58s. Acesso em: 26/10/2024
[31] BLOOMBERG, Craig L. Ten Percent Won’t Work for Everyone. Christianity Today. Disponível em:
[32] SALSTRAND, George A. E. The tithe: the minimum standard for Christian giving. Grand Rapids: Baker Book House, 1952, p. 52. Disponível em:
[33] LUTHER, Martin. How Christians Should Regard Moses, Sermão proferido na Igreja de Todos os Santos, Wittenberg, 27 de maio de 1525. Disponível em:
[34] STEWART, Elmer Brian. The Tithe. Chicago: The Winona Publishing Co. 1903. p. 71. Disponível em:
[35] CROTEAU, David. You Mean I Don't Have To Tithe? [s.l.: s.n., s.d.]. Citado em: ORTEGA, Matheus. Dízimo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2024. p. 71. E-book Kindle
[36] SPURGEON, Charles. CHRIST’S POVERTY, OUR RICHES, Sermão proferido na Igreja Metropolitan Tabernacle, Newington, 18 de abril de 1880. Disponível em:
[37] GRAHAM, Billy. Partners with God. Sermão proferido em New Orleans, 1954. Citado em: ORTEGA, Matheus. Dízimo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2024. p. 79. E-book Kindle
[38] MACEDO, Edir. Por que devolver o dízimo? Rio de Janeiro: Unipro Editora, 2015. Disponível em:
[39] ORTEGA, Matheus. Dízimo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2024. p. 71. E-book Kindle
[40] IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL. Carta Pastoral Sobre o Dízimo. Brasília: Ágil Gráfica, 2018. p. 25. Disponível em: < https://www.tesourariaipb.org.br/downloads/carta_pastoral.pdf>. Acesso em: 29/10/2024
Apêndice A - Histórico do Debate sobre o Dízimo[1]
Evidência
Negativa (refere-se àqueles que não refutaram o dízimo, mas sua descrição sobre
doação é considerada incompatível com o dízimo.)
CLEMENTE DE ROMA. Epístola aos Coríntios. Ca.
100.
DIDAQUÊ. Ensinamento dos Doze Apóstolos. Ca.
100.
JUSTINO MÁRTIR. Primeira Apologia. 100-165.
TERTULIANO. De Praescriptione Haereticorum.
160-230.
Ambíguo
IRENEU DE LIÃO. Contra as Heresias. 130-200.
CIPRIANO. Sobre a Unidade da Igreja. M. 258.
CONSTANTINO. Edictos e Correspondências. Ca.
325.
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WESLEY, John. Journals and Diaries. 1703-1791.
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EPIFÂNIO. Sermões e Escritos. 370.
AQUINO, Tomás de. Summa Theologiae. 1225-1275.
WYCLIFF, John. Sobre a Sagrada Escritura. 1328-1384.
HUSS, John. Sermões e Cartas. 1373-1415.
ERASMO. Encomium Moriae (Elogio da Loucura). 1466-1536.
LUTERO, Martinho. Sobre a Liberdade Cristã. 1483-1546.
ANABATISTAS (especialmente os suíços). Ca. 1525.
MILTON, John. The Tenure of Kings and Magistrates. 1659.
CROMWELL, Oliver. Correspondência e Discursos. 1599-1658.
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CLEMENTE DE ALEXANDRIA. Stromata. 150-215.
CONSTITUIÇÕES APOSTÓLICAS. Século IV.
SINODO DE GANGRA. Ca. 350.
HILÁRIO DE POITIERS. Comentários sobre os Salmos. 366.
BASÍLIO DE CESAREIA. Sermões. 370.
AMBRÓSIO. Sermões e Escritos. 374.
CASSIANO. Conferências. 410.
ISIDORO DE PELÚSIO. Epístolas. 450.
MATTHEW HENRY. Commentary on the Whole Bible. 1662-1714.
Apoiadores do Dízimo, mas como Compromisso
ORÍGENES. Homilias sobre o Levítico. 186-255.
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